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segunda-feira, 5 de março de 2012

Arruinei a transa (Transa. Noise. Silêncio: Segundo ato);



Você já ouviu o barulho de um coração quebrando? Você já ouviu o som de um coração partindo?
Creio que seja o mesmo barulho de um vinil. Faz tipo um PLOC, ou seria um CREC? De qualquer forma, é um som horrendo, minha sinhá, sei porque o ouvi nitidamente e ainda ouço seu eco retumbando em meu coração. PLOC, PLOC, PLOC, PLOC. É o mesmo barulho das almas chamuscadas pelo inferno e das almas quebradas no paraíso.
Transa. Aquela Transa não estava ali por acaso. Sabeis que não acredito em coincidências, e isso se dá não por uma fé tola mas pelo simples fato de que elas, efetivamente, não existem. Esqueça. Ali estava ela na primeira posição da minha estante, por algum motivo ignorado. Ignorado o caralho: por causa do mesmo princípio que rege todos os fatos do cosmos. Obedeci. Pus-me a escutá-la. Não sem antes deixá-la cair como uma lâmina da morte em meus pés descalços. Sentindo o sangue quente escorrendo por eles e o profundo corte no mesmo, olhei para os céus e dei graças ao deus imaginário: Gaças a deus que meu pé amorteceu a queda e não deixou nenhum mal acometer minha preciosa relíquia. Foi com fervor que pus-me a ouvir e com veneração que o guardei outra vez na sua posição original, não sem antes notar uma pequena fissura que me impedia de ouvir aquela canção.
Não por acaso, veio aquela canção depois. Oh, você está me convidando. Entendendo o sinal, quis ouví-la com mais fervor. Não só ouvir mas sentir a transa, o lance todo. Da introdução ao fim do lado dois. Cada chiado. As rítmicas e cíclicas rotações.
E de repente, como se o mundo todo tivesse conspirado para minha ruína, como se todos os demônios tivessem se unido contra mim, num esforço tolo para engendrar meus caprichos infantis e cancerianos...
PLOC. PLOc. PLoc. Ploc. ploc. ploc. ploc. choro. Velas. Café.
Você já ouviu um coração partindo, minha sinhá? Tem o mesmo som sinistro que um vinil estilhaçando, dilacerando-se em dois pedaços desiguais e brilhantes.



Vã Guarda ("Eu tentei, eu tentei (eu tentei). Eu tentei, eu juro que tentei. Eu tentei, eu arrisquei, e me asfixiei"... )




Verdade. Tentei. Pode-se dizer que eu estou com os olhos vendados, que meu coração está fechado para novas experiências e sabores, mas, em absoluto, não é isso.
Tá: Vanguart é uma banda original. Tem belíssimos arranjos que, se por um lado me causam apreciação cerebral, não conseguem me tocar, na maioria das vezes (todas). Veja: Só conheço um álbum: Ao Vivo no Multishow. Em que pese isto. Mas pese mais ainda: Ouvindo outras gravações de estúdio noto uma melhora nos arranjos mas a persistência do desagradável fenômeno vocal. Em que pese toneladas, como chumbo: O primeiro álbum que ouvi do Led Zeppelin foi ao vivo, também em um programa de tv (BBC Sessions), então... então.
 Fora isso, ouvi duas músicas: uma é a do famigerado clip dos semáforos, única entidade na quel estes caras afirmam acreditar. A segunda, foi a música apresentada pela senhorita Anne Kawaii, no fonofilia. Esta canção, por sua vez, foi a que mais perto chegou de tocar minha profunda alma.
Narro: a canção começa com um arranjo super nostalgico e com cheiro de cigarros mofados e bebida envelhecida. Ok. Saboroso. Hmmm. Uma escaleta ou algo do tipo fere nossa alma na medida certa. Música pra chorar, um choro bom, talvez?
Eis que então entra em cena o... vocalista. oh.
Não adianta: O vocalista do Vanguart não vai me convencer. Em termos bastante francos, sua voz me causa uma profunfa e terrível agonia, um asco...Ah! Sei a palavra certa!: gastura. Sabe quando alguém arranha o quadro negro com as unhas? Sabe quando vc passa as mãos por uma lixa? Sabe quando vc come um doce azedo de maracujá? Sabe aquele glacê horroroso de bolo?
(Profundissimamente hipocondríaco, este lugar me causa repugnância, E Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia Que se escapa da boca de um cardíaco)
Essa é a sensação que me dá a voz desse rapaz. Não creio que a voz dele seja assim na realidade. Nem se trata disso. Nitidamente, o rapaz quer causar um efeito, provocar uma sensação. É um recurso musical, já o vi várias vezes. Pretende causar uma impressão que contribui para a sensação da música. Eis a falha: o cara erra na dose. Colocou o açucar na proporção errada (ou o travor do maracujá). Poderia dosar, se quisesse, vejo nitidamente, como o faz no começo do citado vídeo que a senhorita Anne me mostrou. Mas não o faz. Isso estraga irreparavelmente todo o conjunto.
Veja: o Rodrigo Amarante e Marcelo Camelo usam o mesmo recurso n'os Hermanos. Adivinhe? A dose é nem mais nem menos do que perfeita. Julian casablancas, do strokes, idem. E outros que estou com preguiça de lembrar.
Com tudo isso, quero dizer o que digo: justamente. Sim, o vocalista do vanguart força a voz. Agora, creio que a senhorita Anne Kawaii tenha algum filtro ligado à sua memória emocional (elemento que abunda nesta senhorita, o sei), que justifique seu amor incondicional pela banda.
Veja: ouço bandas e músicas muito ruins, admito. Mas adoro ouví-las porque, por um ou outro motivo, elas se comunicam com minha memória emocional, com meu histórico interior, e, por isso, ouço-as de bom grado. Fazem-me feliz (mesmo chorando às vezes. Um choro bom). Ora, ser bom ou ruim não significa nada, e nem nada significa nada. O que importa é o que sentimos, não é? E o mundo que se dane, afinal o mundo é só o mundo, o velho e gordo mundo.
O fato final é que, de tanto discutir, ouvir, analisar, experimentar e viver, vou acabar incorporando a banda ao meu sagrado panteão imaginário. E não seria a primeira vez que isso aconteceria. Um dia, talvez, a voz enjoativa do vocalista do Vanguart (cujo nome estou me esforçando pra não aprender) acabe se tornando pitoresca aos meus ouvidos de poetinha ordinário, o que lhe daria um sabor qualquer.  Não vos espanteis se me me virem por aí ouvindo Vanguart, e me emocionando. Não significará que a banda evoluiu nem um pouco, e nem tampouco que eu. A magia da música é essa.
Me desculpa. Eu tentei, eu tentei (eu tentei). Eu tentei, eu juro que tentei. Eu tentei, eu arrisquei, e me asfixiei"...



quinta-feira, 1 de março de 2012

Eu ouço música pra chorar


E por que não?
Antes de lançarem pedras ou moedas, entenda que para mim chorar e tristeza não são sinônimos ou sintomas um do outro. Eu posso ver pelos seus olhos que você também chora quando ouve música. E não precisa de uma lembrança, não precisa de saber o que a música diz, não precisa de nada específico. O gênero pouco importa, o momento pouco importa. O que importa é como aquela música, aquele ruído específico da guitarra, o silêncio da música que tira o ar, a bateria que beija seus lábios, o baixo (ah... O baixo...) que arranha suas costas... Todos os elementos da música consegue decifrar sua alma sem que você tenha dito uma palavra sequer. Senhoras e senhores: as músicas que me fizeram chorar.


Ball and Chain - Janis Joplin - Monterey Pop Festival 1967


É essa versão específica que me faz chorar. Não vale a versão da Alemanha, não vale outra. Tem que ser essa. Janis entra tão simples, tão calma, explora um tom mais grave que o seu comum (o que podemos chamar de tom humano), como quem entra devagar na sala, pede pra sentar. Deixa a sua timidez transparecer, fluir, escorrer entre notas e arranjos, como quem chama mais perto pela voz baixa.
No refrão, ela deixa-nos íntimos de sua voz e cada singelo agudo é um calafrio como unhas nas costas. Então desabrocha, entrega-se e por alguns momentos sentimos o que ela sentia. E todas as paradas dos instrumentos que podemos ouvir a respiração pesada de Janis é só um bônus para nos levar a loucura. Pra arrematar e levar nossa alma, ela vem com "This can't b-b-b-b-b-b-b-b-b-b-b-b-b-b-b-b-b-b-be in vain..." Como não chorar com essa experiência?

Come alive - Foo Fighters


Enquanto Ball and Chain é como um tapa na cara de tão arrebatadora, Come Alive é como aquele carinho que emociona. Sinto uma mão suave nas minhas bochechas toda vez que ouço. Em algum dos tantos posts que fiz comentei com vocês que a música muda meu humor, me traz sensações corporais, então não estranhe quando digo que essa música me dá a sensação de beber água. Aquela água gostosa que se bebe depois de uma caminhada longa, que não é tão gelada machucando a garganta e não é tão quente que dá mal estar quando se bebe. É uma música que lava, purifica.
Primeiro, na sua introdução com um violão acústico acompanhado da voz de Dave (aquela voz que traz uma rouquidão sutil, nada exagerado ainda), é como se lavasse nossos pés, é como a onda do mar que se desmancha nos pés e vai embora. Gradativamente quando entra o segundo violão e a bateria, as ondas começam a ficar mais intensas, puxam um pouco mais. E puxam, e puxam, e puxam. E não são ondas que desesperam. São ondas que abraçam, acalentam, deixando-nos mergulhar no mais profundo azul-verde-mar... E toda a rouquidão que Dave solta no final da música, as escalas, a bateria com pratos furiosos... Ai, ai...


Nessa Cidade - Vanguart

A história é assim: eu não pude ir no show deles no Rio, mas fui abençoada alguns dias depois com um show deles aqui em Brasília. Eu já ansiava por isso, por esse show, pelo Flanders, pela noite, pela banda... Por essa música. Eles tocaram os primeiros acordes, aquele som de órgão fúnebre acompanhado de sutis toques no prato da batera, mas tudo esquenta com os metais de Hélio e as cordas de Fernanda. Meus olhos brilham e o choro não é controlável, era uma necessidade. O tecladista, no fundo do palco, me vê, eu o olho, e leio os seus lábios que dizem "ownti".
Mas antes disso, bem antes... Ainda quando eu e o mar estávamos dançando na praia, ainda quando no Rio não fazia 40º, essa mesma música serviu para acalmar minh'alma, fez o Sol voltar a sorrir para os dias, novas rosas florescerem.

Certamente essas não são as únicas, mas todas também não poderia postar. Postei essas três para compartilhar com vocês como músicas completamente diferentes me movem, me emocionam, me tocam puramente pela sua existência, pelo o que ela me provoca. Besta é o que não se deixa emocionar.

Beijos beijos.