Verdade. Tentei. Pode-se dizer que eu estou com os olhos vendados, que meu coração está fechado para novas experiências e sabores, mas, em absoluto, não é isso.
Tá: Vanguart é uma banda original. Tem belíssimos arranjos que, se por um lado me causam apreciação cerebral, não conseguem me tocar, na maioria das vezes (todas). Veja: Só conheço um álbum: Ao Vivo no Multishow. Em que pese isto. Mas pese mais ainda: Ouvindo outras gravações de estúdio noto uma melhora nos arranjos mas a persistência do desagradável fenômeno vocal. Em que pese toneladas, como chumbo: O primeiro álbum que ouvi do Led Zeppelin foi ao vivo, também em um programa de tv (BBC Sessions), então... então.
Fora isso, ouvi duas músicas: uma é a do famigerado clip dos semáforos, única entidade na quel estes caras afirmam acreditar. A segunda, foi a música apresentada pela senhorita Anne Kawaii, no fonofilia. Esta canção, por sua vez, foi a que mais perto chegou de tocar minha profunda alma.
Narro: a canção começa com um arranjo super nostalgico e com cheiro de cigarros mofados e bebida envelhecida. Ok. Saboroso. Hmmm. Uma escaleta ou algo do tipo fere nossa alma na medida certa. Música pra chorar, um choro bom, talvez?
Eis que então entra em cena o... vocalista. oh.
Não adianta: O vocalista do Vanguart não vai me convencer. Em termos bastante francos, sua voz me causa uma profunfa e terrível agonia, um asco...Ah! Sei a palavra certa!: gastura. Sabe quando alguém arranha o quadro negro com as unhas? Sabe quando vc passa as mãos por uma lixa? Sabe quando vc come um doce azedo de maracujá? Sabe aquele glacê horroroso de bolo?
(Profundissimamente hipocondríaco, este lugar me causa repugnância, E Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia Que se escapa da boca de um cardíaco)
Essa é a sensação que me dá a voz desse rapaz. Não creio que a voz dele seja assim na realidade. Nem se trata disso. Nitidamente, o rapaz quer causar um efeito, provocar uma sensação. É um recurso musical, já o vi várias vezes. Pretende causar uma impressão que contribui para a sensação da música. Eis a falha: o cara erra na dose. Colocou o açucar na proporção errada (ou o travor do maracujá). Poderia dosar, se quisesse, vejo nitidamente, como o faz no começo do citado vídeo que a senhorita Anne me mostrou. Mas não o faz. Isso estraga irreparavelmente todo o conjunto.
Veja: o Rodrigo Amarante e Marcelo Camelo usam o mesmo recurso n'os Hermanos. Adivinhe? A dose é nem mais nem menos do que perfeita. Julian casablancas, do strokes, idem. E outros que estou com preguiça de lembrar.
Com tudo isso, quero dizer o que digo: justamente. Sim, o vocalista do vanguart força a voz. Agora, creio que a senhorita Anne Kawaii tenha algum filtro ligado à sua memória emocional (elemento que abunda nesta senhorita, o sei), que justifique seu amor incondicional pela banda.
Veja: ouço bandas e músicas muito ruins, admito. Mas adoro ouví-las porque, por um ou outro motivo, elas se comunicam com minha memória emocional, com meu histórico interior, e, por isso, ouço-as de bom grado. Fazem-me feliz (mesmo chorando às vezes. Um choro bom). Ora, ser bom ou ruim não significa nada, e nem nada significa nada. O que importa é o que sentimos, não é? E o mundo que se dane, afinal o mundo é só o mundo, o velho e gordo mundo.
O fato final é que, de tanto discutir, ouvir, analisar, experimentar e viver, vou acabar incorporando a banda ao meu sagrado panteão imaginário. E não seria a primeira vez que isso aconteceria. Um dia, talvez, a voz enjoativa do vocalista do Vanguart (cujo nome estou me esforçando pra não aprender) acabe se tornando pitoresca aos meus ouvidos de poetinha ordinário, o que lhe daria um sabor qualquer. Não vos espanteis se me me virem por aí ouvindo Vanguart, e me emocionando. Não significará que a banda evoluiu nem um pouco, e nem tampouco que eu. A magia da música é essa.
Me desculpa. Eu tentei, eu tentei (eu tentei). Eu tentei, eu juro que tentei. Eu tentei, eu arrisquei, e me asfixiei"...
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