E por que não?
Antes de lançarem pedras ou moedas, entenda que para mim chorar e tristeza não são sinônimos ou sintomas um do outro. Eu posso ver pelos seus olhos que você também chora quando ouve música. E não precisa de uma lembrança, não precisa de saber o que a música diz, não precisa de nada específico. O gênero pouco importa, o momento pouco importa. O que importa é como aquela música, aquele ruído específico da guitarra, o silêncio da música que tira o ar, a bateria que beija seus lábios, o baixo (ah... O baixo...) que arranha suas costas... Todos os elementos da música consegue decifrar sua alma sem que você tenha dito uma palavra sequer. Senhoras e senhores: as músicas que me fizeram chorar.
Ball and Chain - Janis Joplin - Monterey Pop Festival 1967
É essa versão específica que me faz chorar. Não vale a versão da Alemanha, não vale outra. Tem que ser essa. Janis entra tão simples, tão calma, explora um tom mais grave que o seu comum (o que podemos chamar de tom humano), como quem entra devagar na sala, pede pra sentar. Deixa a sua timidez transparecer, fluir, escorrer entre notas e arranjos, como quem chama mais perto pela voz baixa.
No refrão, ela deixa-nos íntimos de sua voz e cada singelo agudo é um calafrio como unhas nas costas. Então desabrocha, entrega-se e por alguns momentos sentimos o que ela sentia. E todas as paradas dos instrumentos que podemos ouvir a respiração pesada de Janis é só um bônus para nos levar a loucura. Pra arrematar e levar nossa alma, ela vem com "This can't b-b-b-b-b-b-b-b-b-b-b-b-b-b-b-b-b-b-be in vain..." Como não chorar com essa experiência?
Come alive - Foo Fighters
Enquanto Ball and Chain é como um tapa na cara de tão arrebatadora, Come Alive é como aquele carinho que emociona. Sinto uma mão suave nas minhas bochechas toda vez que ouço. Em algum dos tantos posts que fiz comentei com vocês que a música muda meu humor, me traz sensações corporais, então não estranhe quando digo que essa música me dá a sensação de beber água. Aquela água gostosa que se bebe depois de uma caminhada longa, que não é tão gelada machucando a garganta e não é tão quente que dá mal estar quando se bebe. É uma música que lava, purifica.
Primeiro, na sua introdução com um violão acústico acompanhado da voz de Dave (aquela voz que traz uma rouquidão sutil, nada exagerado ainda), é como se lavasse nossos pés, é como a onda do mar que se desmancha nos pés e vai embora. Gradativamente quando entra o segundo violão e a bateria, as ondas começam a ficar mais intensas, puxam um pouco mais. E puxam, e puxam, e puxam. E não são ondas que desesperam. São ondas que abraçam, acalentam, deixando-nos mergulhar no mais profundo azul-verde-mar... E toda a rouquidão que Dave solta no final da música, as escalas, a bateria com pratos furiosos... Ai, ai...
Nessa Cidade - Vanguart
A história é assim: eu não pude ir no show deles no Rio, mas fui abençoada alguns dias depois com um show deles aqui em Brasília. Eu já ansiava por isso, por esse show, pelo Flanders, pela noite, pela banda... Por essa música. Eles tocaram os primeiros acordes, aquele som de órgão fúnebre acompanhado de sutis toques no prato da batera, mas tudo esquenta com os metais de Hélio e as cordas de Fernanda. Meus olhos brilham e o choro não é controlável, era uma necessidade. O tecladista, no fundo do palco, me vê, eu o olho, e leio os seus lábios que dizem "ownti".
Mas antes disso, bem antes... Ainda quando eu e o mar estávamos dançando na praia, ainda quando no Rio não fazia 40º, essa mesma música serviu para acalmar minh'alma, fez o Sol voltar a sorrir para os dias, novas rosas florescerem.
Certamente essas não são as únicas, mas todas também não poderia postar. Postei essas três para compartilhar com vocês como músicas completamente diferentes me movem, me emocionam, me tocam puramente pela sua existência, pelo o que ela me provoca. Besta é o que não se deixa emocionar.
Beijos beijos.
Ok. Essa música do Vanguart é boa. De chorar, efetivamente, um choro bom. No início o vocal consegue se conter, mas lá pelas tantas depiroca outra vez. Isso nao altera a chorabilidade da música, mas ainda mantenho a impressão de que se o vocalista não forçasse tanto o arrastar da voz soaria menos caricato e, portanto, mais real, mais verdadeiro, mais emocionante. Matemo-lo, ou arranquemos sua garganta, ou arranquemos sua alma, sua verdadeira alma, esta que ele não nos dá aí, mas um escudo, uma mascara de ferro.
ResponderExcluirquanto ao dave: divino.
quanto à janis: "incomentável";