'Pitanga' é o seu mais novo disco e acho que esse é o trabalho que melhor define ela como música. É claro o amadurecimento tanto em técnica quanto em letras e principalmente em sentimento. Mas o amadurecimento não tirou a inocência e a forma lunática que ela trata a música. Certamente não estamos falando da menina ingênua que conhecemos em 2008. A voz agora tem nuances novas e uma rouquidão que antes não existia. Há uma variedade maior de instrumentos, que não existia nos álbuns anteriores. Aliados às letras mais íntimas, melhor construídas, as músicas parecem mais preenchidas, não faltando espaços vazios, não deixando nada a desejar.
Aliás, as letras são as obras primas do álbum. Diferente do 'tchubarubaru' que a deixou famosa, Mallu agora vem com calor, com delicadeza, com sensualidade e mostra-se completamente apaixonada. A sinceridade está impregnada em todas as linhas e em todos os versos completam a sua honestidade.
O disco é pra se ouvir embaixo do lençol, de manhã cedo, na cerveja do almoço, no cigarro de fim de expediente. Pra se ouvir vendo o mar.
'Velha e Louca' abre o álbum. A música não traz muita novidade. É exatamente uma música de abertura. Há muitas características dos trabalhos anteriores da cantora, mas com a letra denuncia o aprimoramento que o 'Pitanga' prepara.
'Cena', a segunda faixa, já lembra um tango mas com qualidade e simplicidade ímpar. Com bateria marcada, com acordes simples o contrabaixo rouba a cena nas estrofes fazem a voz de Mallu deslizar docemente nas casas do violão.
O disco, produzido por Marcelo Camelo, tem digitais dele por todo lugar. 'Sambinha bom' é o mesmo que vê-lo sentado no sofá, com sua barba de personagem do Harry Potter, hipnotizando com música. Bom, não se pode negar que grande parte desse amadurecimento musical de Mallu foi influenciado por ele e, devido ao amor e relacionamento que têm, as letras também sofreram influência. Nessa música, Mallu surpreende numa espécie de bossa nova, o que lhe coube muito bem. Tão bem, que há outra no álbum: 'Ô, Ana'.
Nas músicas 'Olha só, moreno' e 'Por que você faz assim comigo?' ela consegue retratar a tristeza e os problemas de uma forma tão singela, tão delicada, tão frágil. As letras mostram a intimidade dela os arranjos, apesar de diferentes nas duas músicas, com tanta intensidade.
'Youhuhu', 'Baby I'm sure', 'In the morning', 'Lonely' são as músicas com mais partes em inglês do álbum. Todas elas tem um ar mais clássico, mesmo que seja tão novo, tão marcante. 'Youhuhu' tem muitas características da surf music, o que encaixou muito bem com a voz de Mallu. Ao mesmo tempo que tem língua estrangeira, a 'malemolência' na voz dela deixa a música com uma 'brasilidade' que só nós, nativos da terra tupiniquim, conhecemos.
Em 'Baby I'm sure', a voz de Magalhães deleita-se nas poucas notas arranhadas no teclado. A letra, de um ponto de vista completamente pessoal, lembra bilhetes que a gente escreve e nunca entrega.
Na 'In the morning' o teclado também é predominante. Lembra música de ninar. É, de todas, a mais lúdica.
'Lonely' é a única completamente feita em inglês, exceto pelo 'também'. Fica junto à 'Olha só, moreno' e 'Por que você faz assim comigo?', tendo uma letra intimista. Nessa música, durante as gravações é possível ouvir a sua voz duplicada e oitavada nos últimos versos, o que ficou muito bom. A voz dela é muito suave e um tanto infantil, um outro backvocal seria destoante. Genial!
Para aqueles que conhecem o seu trabalho desde sempre e sentiram falta do folk, a música 'Highlight Sensitive'. Mas há algo além do folk, algo além da fórmula que ela tinha. Descubra e compartilhe comigo.
'Cais' é uma música que eu queria ter composto.
Bem, vou parando por aqui, pois as lágrimas estão quase transbordando. Recomendo o álbum. Recomendo sentir o álbum. Recomendo ouvir só. Recomendo ouvir a dois, a um. 'Pitanga' não é apenas uma prova de crescimento técnico e de produção, mas de um amadurecimento de alma
"Junto da música, que gerou esse disco, gerou uma pessoa".
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