inicio este texto e esta é a terceira vez. abraço, de beto mejía, não inicia, mas
nos conduz a um universo sagrado e coletivo, onde nossos ouvidos são como os
portões de madeira que citados no seu site onde fiz gratuitamente o download do
disco.
em seguida, "a canção abre devagar seus
olhos", conduzindo-nos em uma, talvez, valsa que me leva a fase
inicial dos móveis, me fazendo sentir de novo aqueles arrepios e uma alegria
incontrolável, como se meu corpo etéreo vibrasse a cada corda, me levando pela
mão em uma dança linda. a música é suave e inocente, o refinamento técnico e
artístico são um acabamento perfeito e me encho de orgulho de ser conterrâneo e
contemporâneo de artistas como ele.o parágrafo acaba e me encho de expectativa
para a terceira faixa.
o piano inicia e acompanha uma letra bem resolvida,
como um quebra-cabeça de palavras e ideias bem movianas*. o tema é a concepção da vida. de início, estranhei uma
voz masculina cantar o universo da gestação de uma forma tão pessoal, que não
deixam mentir as palavras que descrevem o autor, como um marido apaixonado e
aspirante a pai - e caio na reflexão sobre o poder do amor em lapidar pessoas.
o álbum é versátil, leve e saboroso. dá vontade de gravar tudo num cd e sair
para viajar de carro com a janela aberta e mãos fazendo ondas no ar.
pelo momento que passa a produção musical nacional e
a fase que passam os próprios móveis - impossível não me segurar em fazer
comparações - fiquei extremamente feliz quando tive em mãos a possibilidade de
baixar este álbum. desde o início dos anos 2000, tenho observado uma tendência
ao hibridismo e um impulso à experimentação. mesmo não conseguindo identificar
no álbum um estilo claro, sinto uma unidade estético-poética que permeia todas
a faixas, garantindo um estilo próprio ao disco. mesmo com suas características
afins aos Móveis, é claro em Mejía a expressão de uma linguagem particular e
com aguçada atmosfera espiritual.
o álbum chega aos seus últimos segundos e, no
silêncio que sucede o fim, me espremo em uma ânsia que de que não disse tudo o
que gostaria. este álbum é mais que música, é imersão que só se consegue em
abraço verdadeiro. com palavras embaralhadas, apenas fico com a imagem do
músico que emerge das águas e lava os olhos, assim como me sinto em tantos
textos que escrevi até hoje.
*movianas (adj.). Relativo à banda Móveis Coloniais de Acaju..
Nós temos a mesma idade. Confesso que no começo duvidei um pouco da sua capacidade mental. Confesso que tive dois dedinhos de inveja. Hoje, venho confessar admiração à essa garota, à Mallu Magalhães.
'Pitanga' é o seu mais novo disco e acho que esse é o trabalho que melhor define ela como música. É claro o amadurecimento tanto em técnica quanto em letras e principalmente em sentimento. Mas o amadurecimento não tirou a inocência e a forma lunática que ela trata a música. Certamente não estamos falando da menina ingênua que conhecemos em 2008. A voz agora tem nuances novas e uma rouquidão que antes não existia. Há uma variedade maior de instrumentos, que não existia nos álbuns anteriores. Aliados às letras mais íntimas, melhor construídas, as músicas parecem mais preenchidas, não faltando espaços vazios, não deixando nada a desejar.
Aliás, as letras são as obras primas do álbum. Diferente do 'tchubarubaru' que a deixou famosa, Mallu agora vem com calor, com delicadeza, com sensualidade e mostra-se completamente apaixonada. A sinceridade está impregnada em todas as linhas e em todos os versos completam a sua honestidade.
O disco é pra se ouvir embaixo do lençol, de manhã cedo, na cerveja do almoço, no cigarro de fim de expediente. Pra se ouvir vendo o mar.
'Velha e Louca' abre o álbum. A música não traz muita novidade. É exatamente uma música de abertura. Há muitas características dos trabalhos anteriores da cantora, mas com a letra denuncia o aprimoramento que o 'Pitanga' prepara.
'Cena', a segunda faixa, já lembra um tango mas com qualidade e simplicidade ímpar. Com bateria marcada, com acordes simples o contrabaixo rouba a cena nas estrofes fazem a voz de Mallu deslizar docemente nas casas do violão.
O disco, produzido por Marcelo Camelo, tem digitais dele por todo lugar. 'Sambinha bom' é o mesmo que vê-lo sentado no sofá, com sua barba de personagem do Harry Potter, hipnotizando com música. Bom, não se pode negar que grande parte desse amadurecimento musical de Mallu foi influenciado por ele e, devido ao amor e relacionamento que têm, as letras também sofreram influência. Nessa música, Mallu surpreende numa espécie de bossa nova, o que lhe coube muito bem. Tão bem, que há outra no álbum: 'Ô, Ana'.
Nas músicas 'Olha só, moreno' e 'Por que você faz assim comigo?' ela consegue retratar a tristeza e os problemas de uma forma tão singela, tão delicada, tão frágil. As letras mostram a intimidade dela os arranjos, apesar de diferentes nas duas músicas, com tanta intensidade.
'Youhuhu', 'Baby I'm sure', 'In the morning', 'Lonely' são as músicas com mais partes em inglês do álbum. Todas elas tem um ar mais clássico, mesmo que seja tão novo, tão marcante. 'Youhuhu' tem muitas características da surf music, o que encaixou muito bem com a voz de Mallu. Ao mesmo tempo que tem língua estrangeira, a 'malemolência' na voz dela deixa a música com uma 'brasilidade' que só nós, nativos da terra tupiniquim, conhecemos.
Em 'Baby I'm sure', a voz de Magalhães deleita-se nas poucas notas arranhadas no teclado. A letra, de um ponto de vista completamente pessoal, lembra bilhetes que a gente escreve e nunca entrega.
Na 'In the morning' o teclado também é predominante. Lembra música de ninar. É, de todas, a mais lúdica.
'Lonely' é a única completamente feita em inglês, exceto pelo 'também'. Fica junto à 'Olha só, moreno' e 'Por que você faz assim comigo?', tendo uma letra intimista. Nessa música, durante as gravações é possível ouvir a sua voz duplicada e oitavada nos últimos versos, o que ficou muito bom. A voz dela é muito suave e um tanto infantil, um outro backvocal seria destoante. Genial!
Para aqueles que conhecem o seu trabalho desde sempre e sentiram falta do folk, a música 'Highlight Sensitive'. Mas há algo além do folk, algo além da fórmula que ela tinha. Descubra e compartilhe comigo.
'Cais' é uma música que eu queria ter composto.
Bem, vou parando por aqui, pois as lágrimas estão quase transbordando. Recomendo o álbum. Recomendo sentir o álbum. Recomendo ouvir só. Recomendo ouvir a dois, a um. 'Pitanga' não é apenas uma prova de crescimento técnico e de produção, mas de um amadurecimento de alma
"Junto da música, que gerou esse disco, gerou uma pessoa".
Bem como o nome sugere, o texto em questão é realmente uma arma para nossos ouvidos
e em especial para nossa alma. Uma bomba da mais suave, pura e doce
criatividade. Uma granada da delicada energia de Jack White. Blunderbuss
é o álbum solo de Jack e traz um rock com nuances do blues, do country, do
folk, do jazz. White mostra neste disco que a energia do rock'n'roll pode muito
bem ser acompanhada pelo piano, pelo violino, por um piano clássico.
Revolucionando e mostrando mais um tom de sua paleta de criatividade, Jack
White prova que consegue fazer rock da maneira mais simples com guitarra e
bateria, com o glorioso White Stripes, e com uma banda de mais de cinco
instrumentos diferentes. A versatilidade está aliada há uma imaginação ímpar e
um ouvido espetacular.
She put the ice up on my tongue and then it melted away
As músicas do álbum são, geralmente, curtas. Dois minutos e meio... Três.
Parecem pequenas pílulas para um vício que vem naturalmente com o passar das
músicas. As músicas têm temas corriqueiros de Jack: amor, mulheres, viagens (alcoólicas
ou não)... É possível perceber as influências de Led Zeppelin em White,
entretanto, esse álbum veio como com uma afirmação pleonástica do talento dele.
Jack é, para mim, o artista ícone em criatividade do último século.
Missing Pieces abre o álbum e de primeira, choca aqueles que estão
acostumados com a guitarra suja de Jack White. Um piano, um leve toque na
bateria, um riff simples na guitarra. Mas a música mostra a riqueza que a
banda, de mulheres, deu ao nosso caro amigo. Vocais que se aliam e tornam-se um
e a música vai ganhando consistência em nossos ouvidos.
You took me to a public place to quietly blend into
Logo depois, Sixteen Baltines chuta a porta e traz de volta a mesma
essência de White Stripes. A mudança de tons na voz de Jack, os jogos vocálicos
aliados com a guitarra distorcida, bateria com sequência simples, letra
contundente. Essa música é pra acalmar o ouvinte que conheceu Jack em outras
versões, mostrando que, apesar da delicadeza que uma banda acompanhada por um
violino, ele ainda é um roqueiro irredutivelmente. No entanto, para quem nunca
o ouviu, essa música é para mostrar que ele é capaz de tal proeza.
Freedom at 21 é uma das minhas favoritas. Acho que nessa música, Jack
cria o podemos chamar de 'rap blues'. Um baixo suave, uma guitarra com noises
sutis e uma bateria que não poderia ser melhor trabalhada para o que a música
pede. Palavras rápidas de contundentes jogadas entre um acorde e outro. Tema:
mulheres, mulheres, mulheres...
I wont let love disrupt, corrupt or interrupt me
Logo vem uma música de calmaria novamente. Gosto da forma que o disco foi
organizado e como as faixas foram dispostas. Enfim, vem Love
Interruption. Uma voz doce, linda e forte vem acompanhada a voz destoante
de Jack. O violão e o piano são cama para que essas vozes pulem e consigam dar profundidade
a uma das letras mais lindas que já ouvi.
Homônimo ao álbum, Blunderbuss começa com toques sutis num violão
acústico, logo depois, um piano começa a ser tocado como quem toca uma mulher
que já conhece. A música traz tranqüilidade à medida que a curiosidade da história
lunática da letra cantada cresce. A música o consagra, mesmo que ainda não
tenha acabado o álbum. A pureza e harmonia que os instrumentos se arranjam com
voz, sentimento e palavras colocados enriquecem o ouvinte.
But if you’re thinking like i, i think you’ll see that you’re mad at you too
Hypocrital Kiss tem um pouco das características de Freedom at 21,
com uma letra meio que falada, mas em questão de acidez nas palavras, não há
música no álbum como ela. O mais impressionante para mim, é como ele consegue
deixar a música agridoce, com frequentes riffs no piano e a letra que ela tem.
O mesmo se repete em Weep Themselves to Sleep, mas com uma roupagem mais
clássica.
I'm shaking lembra o rock'n'roll dos anos 50, tanto pela melodia da
música, pelos vocais, pela guitarra que range bem menos, pela letra que ao
mesmo tempo é inocente e maliciosa, pelos cocais femininos no fundo, pelas
palmas que substituem as cordas nos momentos certos. Solos agudos não poderiam
faltar, não quando se trata de Jack White.
I got a feelin' my minds in the sky
Trash Tongue Talker... Bem, para ser sincera, eu não ouvi tantas
vezes para poder passar alguma impressão dela. Ouçam e compartilhem idéias.
Hip (Eponymous) poor boy, On and On and On e Take me with
you when you go, são as músicas com mais referencias clássicas do álbum.
Pianos preenchem todas as músicas, e tirando a última, mantém um ritmo linear,
sem muitos agudos ou mudanças como nas outras músicas. I guess I should go
to sleep também traz muitas referencias clássicas. O piano é o que mais
conversa durante a música e os vocais que acompanham Jack nos levam aos bordéis
norte-americanos dos anos 30.
She don't care what kind of wounds she's inflicted on me
O disco é iluminado, uma síntese do que Jack White tem pra oferecer ao
mundo. É rico e tem de tudo um pouco. Rock, Jazz, Blues, Rap, com tons de azuis
e vermelhos, como não poderia deixar de ser. Bom para ouvir com os amigos, com as
amigas, com os amores, sozinho com café. Recomendável também com vinho e outras
drogas. Servir quente.
*Curiosidade: Na capa do disco, Jack aparece com um corvo nos ombros.
Trata-se de seu animalzinho de estimação.
Hey babies! Venho apresentar para vocês o motivo de minha insônia. Conheci esse blog por acaso em meio num outro blog qualquer e me apaixonei por ele. Não é dificil se apaixonar quando cada uma das obras, dos posts unem criatividade, música, quadrinho, salpicado com humor negro, sexo, protesto, amor. É uma mistura e tanto e uma viagem que recomendo para todos. Eduardo Damasceno e Luís Felipe Garrocho são os responsáveis pelo blog e impressionam com as sacadas que têm. Bom, o trabalho deles fala por si só. Deixo-os curtindo um pouco. O tudo está aqui: Quadrinhos Rasos.
Você já ouviu o barulho de um coração quebrando? Você já ouviu o som de um coração partindo?
Creio que seja o mesmo barulho de um vinil. Faz tipo um PLOC, ou seria um CREC? De qualquer forma, é um som horrendo, minha sinhá, sei porque o ouvi nitidamente e ainda ouço seu eco retumbando em meu coração. PLOC, PLOC, PLOC, PLOC. É o mesmo barulho das almas chamuscadas pelo inferno e das almas quebradas no paraíso.
Transa. Aquela Transa não estava ali por acaso. Sabeis que não acredito em coincidências, e isso se dá não por uma fé tola mas pelo simples fato de que elas, efetivamente, não existem. Esqueça. Ali estava ela na primeira posição da minha estante, por algum motivo ignorado. Ignorado o caralho: por causa do mesmo princípio que rege todos os fatos do cosmos. Obedeci. Pus-me a escutá-la. Não sem antes deixá-la cair como uma lâmina da morte em meus pés descalços. Sentindo o sangue quente escorrendo por eles e o profundo corte no mesmo, olhei para os céus e dei graças ao deus imaginário: Gaças a deus que meu pé amorteceu a queda e não deixou nenhum mal acometer minha preciosa relíquia. Foi com fervor que pus-me a ouvir e com veneração que o guardei outra vez na sua posição original, não sem antes notar uma pequena fissura que me impedia de ouvir aquela canção.
Não por acaso, veio aquela canção depois. Oh, você está me convidando. Entendendo o sinal, quis ouví-la com mais fervor. Não só ouvir mas sentir a transa, o lance todo. Da introdução ao fim do lado dois. Cada chiado. As rítmicas e cíclicas rotações.
E de repente, como se o mundo todo tivesse conspirado para minha ruína, como se todos os demônios tivessem se unido contra mim, num esforço tolo para engendrar meus caprichos infantis e cancerianos...
Você já ouviu um coração partindo, minha sinhá? Tem o mesmo som sinistro que um vinil estilhaçando, dilacerando-se em dois pedaços desiguais e brilhantes.
Verdade. Tentei. Pode-se dizer que eu estou com os olhos vendados, que meu coração está fechado para novas experiências e sabores, mas, em absoluto, não é isso.
Tá: Vanguart é uma banda original. Tem belíssimos arranjos que, se por um lado me causam apreciação cerebral, não conseguem me tocar, na maioria das vezes (todas). Veja: Só conheço um álbum: Ao Vivo no Multishow. Em que pese isto. Mas pese mais ainda: Ouvindo outras gravações de estúdio noto uma melhora nos arranjos mas a persistência do desagradável fenômeno vocal. Em que pese toneladas, como chumbo: O primeiro álbum que ouvi do Led Zeppelin foi ao vivo, também em um programa de tv (BBC Sessions), então... então.
Fora isso, ouvi duas músicas: uma é a do famigerado clip dos semáforos, única entidade na quel estes caras afirmam acreditar. A segunda, foi a música apresentada pela senhorita Anne Kawaii, no fonofilia. Esta canção, por sua vez, foi a que mais perto chegou de tocar minha profunda alma.
Narro: a canção começa com um arranjo super nostalgico e com cheiro de cigarros mofados e bebida envelhecida. Ok. Saboroso. Hmmm. Uma escaleta ou algo do tipo fere nossa alma na medida certa. Música pra chorar, um choro bom, talvez?
Eis que então entra em cena o... vocalista. oh.
Não adianta: O vocalista do Vanguart não vai me convencer. Em termos bastante francos, sua voz me causa uma profunfa e terrível agonia, um asco...Ah! Sei a palavra certa!: gastura. Sabe quando alguém arranha o quadro negro com as unhas? Sabe quando vc passa as mãos por uma lixa? Sabe quando vc come um doce azedo de maracujá? Sabe aquele glacê horroroso de bolo?
(Profundissimamente hipocondríaco, este lugar me causa repugnância, E Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia Que se escapa da boca de um cardíaco)
Essa é a sensação que me dá a voz desse rapaz. Não creio que a voz dele seja assim na realidade. Nem se trata disso. Nitidamente, o rapaz quer causar um efeito, provocar uma sensação. É um recurso musical, já o vi várias vezes. Pretende causar uma impressão que contribui para a sensação da música. Eis a falha: o cara erra na dose. Colocou o açucar na proporção errada (ou o travor do maracujá). Poderia dosar, se quisesse, vejo nitidamente, como o faz no começo do citado vídeo que a senhorita Anne me mostrou. Mas não o faz. Isso estraga irreparavelmente todo o conjunto.
Veja: o Rodrigo Amarante e Marcelo Camelo usam o mesmo recurso n'os Hermanos. Adivinhe? A dose é nem mais nem menos do que perfeita. Julian casablancas, do strokes, idem. E outros que estou com preguiça de lembrar.
Com tudo isso, quero dizer o que digo: justamente. Sim, o vocalista do vanguart força a voz. Agora, creio que a senhorita Anne Kawaii tenha algum filtro ligado à sua memória emocional (elemento que abunda nesta senhorita, o sei), que justifique seu amor incondicional pela banda.
Veja: ouço bandas e músicas muito ruins, admito. Mas adoro ouví-las porque, por um ou outro motivo, elas se comunicam com minha memória emocional, com meu histórico interior, e, por isso, ouço-as de bom grado. Fazem-me feliz (mesmo chorando às vezes. Um choro bom). Ora, ser bom ou ruim não significa nada, e nem nada significa nada. O que importa é o que sentimos, não é? E o mundo que se dane, afinal o mundo é só o mundo, o velho e gordo mundo.
O fato final é que, de tanto discutir, ouvir, analisar, experimentar e viver, vou acabar incorporando a banda ao meu sagrado panteão imaginário. E não seria a primeira vez que isso aconteceria. Um dia, talvez, a voz enjoativa do vocalista do Vanguart (cujo nome estou me esforçando pra não aprender) acabe se tornando pitoresca aos meus ouvidos de poetinha ordinário, o que lhe daria um sabor qualquer. Não vos espanteis se me me virem por aí ouvindo Vanguart, e me emocionando. Não significará que a banda evoluiu nem um pouco, e nem tampouco que eu. A magia da música é essa.
Me desculpa. Eu tentei, eu tentei (eu tentei). Eu tentei, eu juro que tentei. Eu tentei, eu arrisquei, e me asfixiei"...
E por que não?
Antes de lançarem pedras ou moedas, entenda que para mim chorar e tristeza não são sinônimos ou sintomas um do outro. Eu posso ver pelos seus olhos que você também chora quando ouve música. E não precisa de uma lembrança, não precisa de saber o que a música diz, não precisa de nada específico. O gênero pouco importa, o momento pouco importa. O que importa é como aquela música, aquele ruído específico da guitarra, o silêncio da música que tira o ar, a bateria que beija seus lábios, o baixo (ah... O baixo...) que arranha suas costas... Todos os elementos da música consegue decifrar sua alma sem que você tenha dito uma palavra sequer. Senhoras e senhores: as músicas que me fizeram chorar.
Ball and Chain - Janis Joplin - Monterey Pop Festival 1967
É essa versão específica que me faz chorar. Não vale a versão da Alemanha, não vale outra. Tem que ser essa. Janis entra tão simples, tão calma, explora um tom mais grave que o seu comum (o que podemos chamar de tom humano), como quem entra devagar na sala, pede pra sentar. Deixa a sua timidez transparecer, fluir, escorrer entre notas e arranjos, como quem chama mais perto pela voz baixa.
No refrão, ela deixa-nos íntimos de sua voz e cada singelo agudo é um calafrio como unhas nas costas. Então desabrocha, entrega-se e por alguns momentos sentimos o que ela sentia. E todas as paradas dos instrumentos que podemos ouvir a respiração pesada de Janis é só um bônus para nos levar a loucura. Pra arrematar e levar nossa alma, ela vem com "This can't b-b-b-b-b-b-b-b-b-b-b-b-b-b-b-b-b-b-be in vain..." Como não chorar com essa experiência?
Come alive - Foo Fighters
Enquanto Ball and Chain é como um tapa na cara de tão arrebatadora, Come Alive é como aquele carinho que emociona. Sinto uma mão suave nas minhas bochechas toda vez que ouço. Em algum dos tantos posts que fiz comentei com vocês que a música muda meu humor, me traz sensações corporais, então não estranhe quando digo que essa música me dá a sensação de beber água. Aquela água gostosa que se bebe depois de uma caminhada longa, que não é tão gelada machucando a garganta e não é tão quente que dá mal estar quando se bebe. É uma música que lava, purifica.
Primeiro, na sua introdução com um violão acústico acompanhado da voz de Dave (aquela voz que traz uma rouquidão sutil, nada exagerado ainda), é como se lavasse nossos pés, é como a onda do mar que se desmancha nos pés e vai embora. Gradativamente quando entra o segundo violão e a bateria, as ondas começam a ficar mais intensas, puxam um pouco mais. E puxam, e puxam, e puxam. E não são ondas que desesperam. São ondas que abraçam, acalentam, deixando-nos mergulhar no mais profundo azul-verde-mar... E toda a rouquidão que Dave solta no final da música, as escalas, a bateria com pratos furiosos... Ai, ai...
Nessa Cidade - Vanguart
A história é assim: eu não pude ir no show deles no Rio, mas fui abençoada alguns dias depois com um show deles aqui em Brasília. Eu já ansiava por isso, por esse show, pelo Flanders, pela noite, pela banda... Por essa música. Eles tocaram os primeiros acordes, aquele som de órgão fúnebre acompanhado de sutis toques no prato da batera, mas tudo esquenta com os metais de Hélio e as cordas de Fernanda. Meus olhos brilham e o choro não é controlável, era uma necessidade. O tecladista, no fundo do palco, me vê, eu o olho, e leio os seus lábios que dizem "ownti".
Mas antes disso, bem antes... Ainda quando eu e o mar estávamos dançando na praia, ainda quando no Rio não fazia 40º, essa mesma música serviu para acalmar minh'alma, fez o Sol voltar a sorrir para os dias, novas rosas florescerem.
Certamente essas não são as únicas, mas todas também não poderia postar. Postei essas três para compartilhar com vocês como músicas completamente diferentes me movem, me emocionam, me tocam puramente pela sua existência, pelo o que ela me provoca. Besta é o que não se deixa emocionar.
Eu não gosto do silêncio. Gosto de andar pelas ruas cavernosas e escuras escutando meu poderoso mp3 e me esquivando dos ladrões, e das garotas reboladeiras que me causam tanto asco. O silêncio é um deus pagão na minha religião, que cultua a mim mesmo. O silêncio é meu maior inimigo. No silêncio, posso ouvir meus pensamentos. Achais que quero ouvir meus pensamentos? Achais que quero me conhecer? Achais que quero achar as soluções e pescrutar as profundezas da filosofia? Erraram. Porra nenhuma! Ieca. Só quero ouvir o meu som, nas intensidades das alturas, na barreira do limite, junto às margens do infinito. O mundo sou eu e os meus sons deliciosos, e, se fecho os olhos por um instante, sinto que meu ser é apenas ondas sonoras. Não gostei dessa última frase, vou recortá-la. Gosto de andar pelas ruas com a cara fechada e meus fones nos ouvidos, e fingir que as pessoas que se acotovelam e andam por aí cuspindo testosterona são apenas figurantes do meu videoclip. Continueis atuando, isso, estão ótimos, esse enquadramento está perfeito. Sorriam! Violência, confusão, fúria desperdiçada, futilidade, perda de tempo, danças símias e tribais, poses artificiais e nem um pouco belas. Lindo! A decadência humana compõe a tela perfeita para ilustrar o som ensurdecedor que sai dos meus fones de ouvido. O barulho é meu silêncio, e o silêncio é uma aberração. O silêncio é um deus pagão. Não preciso do silêncio. Achais que quero ouvir seus gemidos? Gosto de transar com a música nas alturas, e com seus gemidos dentro do compasso. Sequer quero conversar contigo. Quero apenas sua belíssima música transpirando por todos os nossos poros e transcendendo nossos pensamentos. Nesse momento quero ser uma canção pós-punk. quero que um som percursivo, totalmente anormal e repetitivo ataque meu ouvido esquerdo até que eu sofra de um edema, enquanto uma no meu ouvido direito uma duplicada voz feminina cante um mantra infernal. Oh, sim, isso, baby, quero ser uma canção pós-punk. Quero morrer neste intante. Quero ouvir uma gravação longínqua e repassar na minha cabeça todos os detalhes da gravação e da mixagem: o estúdio onde foi gravado, o tipo de isolamento das paredes, a posição da bateria. Quero sentir o reverber todo na minha cabeça e vislumbrar o estúdio na minha cabeça, como se fosse um reminiscência. Sentir na minha alma o tipo de revestimento das paredes do estúdio, e a voz dela gemendo fundo no meu peito.
Abomino o silêncio. Não quero ouvir meus pensamentos. Não quero ouvir o silêncio do mundo. se quisesse iria para o espaço.
Também gosto do barulho das ruas: os passos, os carros, o vento, as árvores, o dinheiro contado, os camundongos conversando, as latinhas chutadas, os cassetetes comendo, o guinchos e silvos dos maloqueiros, os guinchos e silvos das piriguetes, os guinchos e silvos dos alunos e dos professores, principalmente, a histéria generalizada, o almoço cozinhado, o batom roçando os lábios, o asfalto torrando, o céu evoluindo, saltos de all star, saltos de coturno, saltos de botina, solas de sapatilha, saltos de sapato, saltos de sapato, solas de borracha. Sistema hidráulico! Máquinas.... sorvete. Parafusos. Mãos indecentes. Todos os sons: Amo-os todos. Este texto durou um álbum. Este álbum durou um texto. E a música durou uma vida inteira. Oh! Os sons... amo-os todos! Mas o silêncio: não. O silêncio: é um deus pagão.