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segunda-feira, 2 de maio de 2011

Golpe Baixo






É um prazer inebriante ver a senhorita A.K. gostando de algo que apresentei a ela. Meu ego chafurda no lamaçal do prazer, com ovações e píncaros orgasmáticos. É beautiful
."Ouça esse álbum, Anne!". "Eu não gosto disso", diz ela, dona eulálicamente. "Já ouviu?". "Não. Mas não gosto." "Por quê?" "Pare de prolongar as coisas, devana".
Na sua cabecinha feminina, isso encerra a discussão, com sua automática vitória.
Tudo bem, sempre achei bonitinho, e mesmo kawaii o seu jeito birrento. Acho bonito garotas teimosas. Mais: tenho verdadeiro dom para atraí-las. Tudo bem. É o jeito dela. Relevo. Alguns minutos depois: "Mas me passe esse álbum. Talvez eu me apaixone".
E no dia seguinte ela está apaixonada. Sim, dá um orgulho inegável, indescritível mesmo, de vê-la assim tão entregue às emoções e tão despida de orgulho. "Foi uma paixão como não sentia há um ano", ela diz, suspirante. Gozável. Este misto de humildade e arrogância sempre me pareceu charmoso. Mas tem uma hora na vida que as coisas passam do limite.
Esta senhorita jura por A+B que não escutou o onipresente baixo em “Waly Salomão”, canção profunda, misteriosa, mística, enigmática e poderosa do álbum , de Caetano Veloso, sobre o qual ela tão habilidosamente falou em sua resenha (habilidosamente, mas sem revisão).
Anne é uma das escritoras--
Melhor: Anne é a melhor escritora, em prosa, que conheci em toda a minha vida. Diria mesmo que é minha irmã de letras, e sempre foi assim (Não pela qualidade, pela essência). Considero-a também minha irmã de música, e sempre foi assim.
Portanto, não é surpresa nenhuma, pra mim, que ela tenha feito um texto tão apaixonado e arrebatado sobre o disco em questão, como só ela poderia fazer (sem revisão, huahuahau!). Não vou pagar pau para o texto mais do que necessário, porque não é necessário! O texto Fá lá por si dó. Uma pérola, diria.
Mas não ter escutado o baixo de Waly Salomão é praticamente um pecado. Imperdoável! Deverás ajoelhar-te sobre os botões da Baby, nossa mesa de som, pra pagar os pecados. Vai ter que dizer no microfone do SuperrRock: "Eu errei, roqueiros, eu errei" para se redimir.
Aí vai um palavrão, à maneira que ela gosta: PORRA! Só tem baixo na desgraça dessa música, senhorita! Só, Tem, BAIXO!
Anne diz que só tem um lado da caixa de som, por isso só ouviu a bateria. Mas, Catzo! A música só tem baixo! E bumbo. Fora o fato de que música só tem baixo! E não sei se eu disse, mas a música só tem baixo! E bumbo. E baixo. Por cima de tudo, e não por baixo.
Explicação plausível: Bumbo e baixo, em qualquer arranjo musical que contenha esses dois elementos, são praticamente irmãos. O baixo marca em cima do bumbo, e são os dois sons mais graves de uma canção. Até começam com a mesma letra, como aquelas pessoas cujas mães batizam os filhos com nomes da mesma letra (Roberto, Rodrigo, Ricardo). Tendo um aparelho que só mostre um lado da música, é ainda mais fácil confundir.
Sugeri essa justificativa à minha amiga, (apesar de que só o fato de o bumbo mudar alternadamente de tom já denuncia um belíssimo e seguro contrabaixo!), mas seu indefectível orgulho não lhe permitiu retroceder. Malgrado!
Atiçou minha ira, baby, e agora terá de lidar com isso. Não admito.
"Acho que você tem ouvido clínico para o baixo, já que é seu instrumento, algo treinado pra identificar suas cordas na música. Eu não tenho o ouvido clinico pra nada, e nem caixinha que ajude e no momento, nem tempo pois bem coloque sua contribuição.

        beijo
        tchau.
"


Ora sua--
Como ousa? É impossível não ouvir o baixo da música. É como dizer que não ouviu o baixo de Dazed anda Confused, de Led Zepellin. Ou que não ouviu o contrabaixo de Acrilic on Canvas, de Legião Urbana. Ou pior ainda: o baixo de Seven Nation Army, dos White Stripes (falar nisso, e nossa dupla folk, Anne?).
Anne, você pecou contra um dos seus deuses mais sagrados: a música. Mexeu com uma de suas mais nobres criaturas: o Rock, no que tange a outra delas: a MPB. E mexeu com um dos sagrados elementos da santíssima trindade: O Baixo. E agora, vai ter que enfrentar a ira de seu mais convicto eremita: Eu! Pecadora vil!
Trate de rezar 27 RedHouse's blues, 23 RoadHouse Blues, e 3 turtle blues.
Maldita! Malograda! Recalcitrante! Filha da puta!
Seria muito mais fácil admitir: “ok, eu não prestei atenção na porra do baixo, estava com a cabeça em outra coisa, desculpe cara, é verdade,  mas que contrabaixo magnífico!”.
Mas não, fica usando subterfúgios. Sua--
Não faça mais isso. Qualquer um que tiver duvidas, faça o teste: tente escutar a música com os dois lados do fone de ouvido. Não tem como não escutar o baixo!


P.S.: Eu te amo, Anne Kawaii, vil pecadora, irmã de minh’alma, e vá se foder no inferno. Ouvindo Waly Salomão.




d.b, ii/v/mmxi, xv:lv; adivinha o que estava ouvindo? (descanse em paz, Osama Bin Laden. Que suas virgens não sejam teimosas como a anne).








Execução ao vivo com áudio em péssima qualidade. Note que, não obstante os prejuízos sonoros, o contrabaixo se sobressai, forte e vigoroso. d.b wins!


Só como curiosidade.

5 comentários:

  1. meu deus esperava isso do Ricardo que por supuesto poderia ouvir ate um bandolin mas a Anne nao acredito ate tirar isso a limpo com ela, e po acho que o Ricardo não vai entender o que é por "fá lá por si dó" pessoas sem musicalidade que coisa mais triste...

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  2. O problema foi técnico. Preciso comprar um headphone. Ainda não inventaram nada melhor para se ouvir música (à não ser os ouvidos...). Mas o ZAKURO, tá quase lascando a mão na cara do Ricardo e dizendo: "Inútil".

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  3. Leitores, não se enganem. Este blog é uma desculpa para satirizar ainda mais a minha imagem. Ele fala por si dó.
    É o que eu sempre digo, intimidade é uma coisa triste.

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  4. Oh. Você entendeu o fa la por si dó. OH!

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