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terça-feira, 3 de maio de 2011

Ou, quem sabe, seja apenas som

Uma viagem Sakurístico-Ricardistica pelo universo transcendental devânico


imagem: Zakuro
Pudera, e poria uma imagem do Ricardo. Mas as que eu queria não estavam disponíveis, seu corporativo.



Nota: Ricardo, se ler este texto, ignore as referencias musicais, que você não entenderá. Você é um ser sem musicalidade. Há muitos termos específicos de música que, mesmo se fizesse um glossário no final do texto, vc não entenderia. ufufufu!
mas analise a parte poética.




Pudera eu, e abdicaria de minha forma humana. De tudo.
A primeira coisa de que me livraria seria do Desejo. Coisa boa seria não querer... Pois, não querendo, me livraria da insatisfação e da angústia, da decepção e da ansiosidade.
Me livraria também da Culpa, sentimento cristão, como diria meu pai, que não seria meu pai quando eu transcendesse.
Sem Culpa e sem Desejo, não precisaria de gozo, pois não o quereria. Pra que gozar se já tenho a plenitude?
Me livraria também do Medo. O Medo também é uma forma de querer: querer não sentir dor.
E me livraria da Dor, e pra isso, por último, e talvez como ritual de despedida, me livraria da porra do meu Corpo. Pra quê me serviria? E pra quê me serve agora? Não passa de uma prisão pra minha mente dionisíaca. A propósito, é um corpo decrépto e feio, baranga.
Bye bye, humanidade.
Mas não imergiria na inexistência, como o amigo Adam "Marcelo Nova". Não.
Não ainda. Não estou tão angustiado assim.
Pudera, e me tornaria um som. Sim! Pra mim seria exactamente a forma perfeita, maravilhosa, gozável!
Um som! A coisa mais maravilhosa que admiro nesse mundo! Poderia me metamorfosear em Poesia, em Música, em Baixo, Guitarra ou Batera, em Gemidos de Prazer, em Bbate-papo Amigável, em Passos no Quintal, em Aplausos, em Afagar de Cabelos, em Uivos de Ventania, em Chuva no Teto de Zinco, em Suspiro, em Grito, e até no Som da Morte, bonito como é.
Sim. Garanto que, se fosse um som, seria a mais bela melodia já escutada. Sabe, eu tenho todas essas melodias dentro de mim. Eu as ouço e tento, muitas vezes em vão, trazê-las para o mundo material, para compartilhar com outros seres humanos, porque é por demais penoso guardar tanta beeza e alegria só para mim. É algo tão infinito e profundo que preciso dividir com os demais, porque não cabe em mim.
Mas o que me impede de trazer esses sons a esse mundo é o meu Corpo, meu Medo, meu Desejo, minha Dor.
Fosse eu um som, e vagaria por aí sem fronteiras, e meu tamanho seria infinito ou ínfimo, conforme eu quisesse.
O espaço também não seria uma barreira. Eu seria omnipresente.
E, se meus amigos fossem sons também, eu poderia me encontrar com eles na hora que quisesse, e faríamos belíssimas sinfonias juntos, ou simplesmente barulhos de Burburinho em Bar no Fim de Tarde.
E se meus amores fossem sons, voaríamos em orgamos sonoros infinitos em diferentes andamentos, dinâmicas e rítmos, e faríamos orgias fonográficas "ingraváveis", inregistráveis. Gritos e gemidos se fundiriam a Beatles e Arto Lindsay, estalos de beijos, palavras cálidas e arrebatadoras, jorro, de sangue e sêmen, sem sangue e sem sêmen. Coro. Choro. Dissonância. Acordes. Contratempos. Ritmo sincopado.
Fôssemos sons e não teríamos cor. Quem sabe nem nome! Nem história! Nem honra, nem mérito, nem pátria, e nem morreríamos!
Repercutiríamos eternamente pelo éter até que as moléculas se acabassem e, quando acabassem, ressurgiriíamos, ou ressonaríamos, ressucitando mais que Jesus, Goku e osama bin laden juntos.
Fôssemos som e seria uma canção do Smiths, depois algumas do álbum branco dos Beatles, bateria eletrônica do Arto Lindsay, sons agonizantes e profundos do bauhaus, o rouco da voz de Janis Joplin, a cavernosidade da voz de Jimbo, um solo de Jimi, um vocalize mântrico de Renato, uma poesia de Baudelaire.
Fôssemos som, e seria impossível não escutar nossa felicidade.  
      
d.b iv/v/mmxi, xvii:xvii.


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