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quarta-feira, 18 de maio de 2011

HeadPhone

   Arte: Zakuro Aoyama






Ah! há muito tempo eu havia esquecido
A emoção que é ouvir música em um fone de ouvido.

Não um fone vagabundo de um e noventa e nove
mas um fone de qualidade que nem molha quando chove.

Um fone bom e acolchoado que te isole dos zumbidos
tão macio que seja música e travesseiro pros ouvidos.

Que pareça um capacete e tenha um arco esparrado,
desses que amassam seu cabelo e deixam o ouvido colado,

desses que se adequam ao seu ouvido como uma roupa bem justinha
como um casaco bem quentinho, uma camisa bem macia.

Que amacie os seus ouvidos e te isolem do universo
que traga o universo pra dentro pelos seus fios paralelos.

E os fios, que sejam envoltos em uma camada de pano
que os proteja por dentro pra que não fiquem quebrando,

para que as ondas sonoras que viajam não se contaminem
no percurso entre o pc e o cérebro do ouvinte.

Que as ondas cheguem puras e intactatas no seu aparelho auditivo
como se o som que ora se ouve nunca tivesse sido ouvido.

Como se a Janis estivesse cantando essa canção agora
como se eu estivesse no estúdio onde essa deusa esteve outrora.

Em 20hz de frequência o som penetre meus ouvidos
e vá direto pro coração, imponente, incisivo.

Que ele fira a minha alma com o seu agudo perfeito,
e que o seu grave definido bata forte no meu peito.

E que quando Paul estiver dedilhando o seu violão
em "Blackbird', eu ouça o barulho da corda atritando com sua mão.

Que o ouça até a sua cabeça se meneando de forma lúdica,
e o som dos seus pés batendo no chão, marcando o ritmo da música,

e o cigarro de Jimmy Hendrix sendo passionalmente consumido
enquanto a sua Stratocaster chora um solo distorcido

como se o fone do meu headfone fosse um cubo valvulado,
como se o cabo estivesse direto na guitarra conectado.

Que esse fone me transporte direto para o outro mundo.
Que esse som então me mate como se me afogasse num lago profundo.



xxiv/ii/mmx xvi:vi, inaugurando o fone de ouvido que acabei de comprar por 20 reais na loja de informática em frente à padaria papiu, e lembrando que eu não ouço música no fone de ouvido desde o fim do ano passado, quando o célio quebrou meu fone de ouvido preferido que era infinitamente melhor do que esse. ou seja, eu não ouvi musica em fone de ouvido esse ano, ainda. a primeira canção que ouvi foi summertime. a segunda foi you shook me. a terceira foi since i've been loving you. a quarta foi blackbird. a quinta e, nesse momento a sexta foram, tbm, since i've been loving you, dessa vez não por escolha minha, mas da reprodução aleatória do aimp. a reprodução aleatória é sábia. ela sabe o que faz. embora aleatória, não creia que essa música foi tocada duas vezes por acaso. não foi. a reprodução aleatória é sábia e sabe o que faz.

3 comentários:

  1. Quando vc chegar aqui em Conquista vai ter um fone e um som no pc bem legal te esperando...Eu também só gosto de ouvir música com fone...Beijos, te amo!

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  2. Esse poema soou como música ao headphone nos meus ouvidos... poemúsica!

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